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aproximando-se. Não foi você quem me botou aqui há tempos os cachorros em cima como se eu fosse alguma raposa au maracajá? Foi você mesmo, que nunca mais sua cara me saiu da lembrança.

— Fui eu mesmo — respondeu Benedicto. E que tem que fosse? É você meu senhor, ou meu pai para vir falar-me assim? Ora vá fazer seus balaios e suas gaiolas, e deixe-me sossegado, que eu não faço conta de você.

— Este negro está enganado comigo, retorquiu Lourenço, como se dirigisse a terceiro. Então você acha que eu havia de esquecer aquele desaforo? Eu não sou de Goiana, sou do Pasmado; e se faço gaiolas e cestos, é para não fazer facas de ponta. Agora, quanto a dizeres, negro, que não me levas em conta, isto é coisa que é mais fácil de dizer do que mostrar.

A esse tempo Lourenço achava-se já pertinho de Benedicto, e este estava de pé. As vistas de um cruzavam-se com as do outro como floretes manejados por dois inimigos, peritos no jogo, e curtidos no rancor.

De repente o olhar de Benedicto se perturba, e ele, de negro, que era, faz-se fulo. Palidez mortal cobriu-lhe a face, há pouco