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Tendo contado pela rama esta fatal acontecimento a João da Cunha, Germano para dar inteira autoridade ao que dizia, indicou o canto do armazém onde se achava morto, dentro de uma poça de sangue ainda quente, o negro que punha sentido nas carvoeiras.

O sargento-mór soltou então o moleque, dizendo-lhe estas palavras:

— Em recompensa da ação que praticaste, Germano, dou-te a liberdade. Do ora por diante já não és meu escravo, mas meu amigo. Estás forro.

— Eu forro, eu livre senhor! exclamou, duvidoso ainda o negro, como quem não podia acreditar fosse senhor do sumo bem a que aspirava desde que tivera o uso da razão, mas cuja posse só em sonho considerava possível.

Estás livre. Palavra de João da Cunha. As lagrimas saltaram dos olhos do moleque, mas uma sombra, escurecendo-lhe o espirito e aguando o contentamento inefável que o repassava, volitou diante dos seus olhos. Esta sombra tinha a forma de um espectro agoureiro e medonho. Parecia com o negro morto, mas não era senão o remorso, porque, em consciência, o moleque se reconhecia traidor e assassino.