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O PRECURSOR DO ABOLICIONISMO NO BRASIL
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no "Diario do Rio de Janeiro", em que se contava a odisséa de um negro boçal "livre", em busca da sua carta, depois dos 14 anos de servidão. Legou-a aos posteros como o atestado mais convincente da profunda indentificação governamental á causa negreira e da corrupção dos homens. Merece traslado esse documento em que se enumeram as infinitas barreiras colocadas propositadamente no caminho de um pobre analfabeto, depois de sugado no seu trabalho de lustros contínuos. Ninguem poderia inventar cousa mais acabada para impedir o acesso á liberdade a respeito de alguns desgraçados que uma lata trágica já declarara libertos. Ouçamô-las. Dizia o artigo:

«Esses infelizes devem resignar-se e esperar.

O africano livre, entregue ao serviço de particulares ou de estabelecimentos publicos, não passa de um verdadeiro escravo; os que desfrutam seus serviços não caem na asneira de facilitar-lhe a emancipação, e, como escravo que é de fato, não pode adquirir meios pecuniarios com que pague a advogados e procuradores para tratarem de sua emancipação.

Segue-se, portanto, que esses infelizes devem resignar-se com a pulha da lei, ou esperar que o acaso lhes depare um protetor desinteressado e que, revestido da mais evangélica paciência, se prepare a sofrer e acompanhar todas as seguintes provas desta nova inquisição moral:

1.º) Pedir ao escrivão dos africanos a certidão demonstrativa de que é passado o lapso de tempo.

2.º) Requerer ao governo imperial por intermedio da secretaria da justiça.

3.º) O ministro da justiça manda ouvir o juiz de orfãos.

4.º) O juiz de orfãos informa e faz volver a petição ao ministro.

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