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O PRECURSOR DO ABOLICIONISMO NO BRASIL
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gados na luta pela existência no mais cruel, no mais absurdo estado de inferioridade.

O erro da monarquia, resistindo decenios seguidos, como uma muralha chinesa, ao assalto das massas negras, que pediam apenas um pouco mais de humanidade, erro que não tem justificativa nem mesmo do ponto de vista mais cego e mais surdo do egoismo, não se pode comparar ao desacerto com que abriu as comportas do dique, longamente reprimido, para deixar passar as vagas revoltas, sem ao menos experimentar canalizá-las. Assegurar os negros no seu inalienavel direito á liberdade, sem estabelecer a sua concomitante obrigação de educá-los, abandonando-os a si mesmo como bandos inconcientes, tem isso, por mais que o disfarcem, todo o aspeto de um crime muito maior que a escravidão propriamente dita. Lançávamos essa população operária, a melhor, a mais paciente, a mais valorosa, a mais organizada, com que o país contara e contava em sua primitiva economia, para o desbarato, para o destroçamento, para a trituração. Os negros tinham estado no tronco da violência, da opressão, da disciplina sanguinária e feroz. Iam para o aniquilamento da embriaguês da liberdade. O perigo era mais premente. Entregues a si mesmos, sem tutor nem guia, pobres redentos, que só possuiam, como única força, a alegria da libertação, sem a correspondente noção da responsabilidade que esse fato novo lhes criava, fundir-se-iam como neve aos embates da vida, ao contato com todos os fatores dissolventes que a sociedade lhes poria no encalço.

13 — O. ABOLICIONISMO