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LUIZA MAHIN

Gama deu-nos dois retratos de sua mãi, um que podemos considerar autêntico, porque se destina á história: é o da Carta. Outro, literário e patético, cái no domínio da fantasia: é o da poesia “Minha mãi”, que não figurava na primeira edição das “Trovas Burlescas” e que veiu na segunda.

○ baíano teve sempre extremos de carinho pela memória da valorosa quitandeira, mas o vício da justiça, que era intrínseco nele, leva-o á atitude de imparcialidade quando a recorda nos seus dados biográficos. Denuncia-lhe as qualidades, a altivez, a beleza física, a operosidade em que havia o espírito de iniciativa. Tambem não lhe oculta os defeitos mais salientes: “geniosa, insofrida, vingativa”.

Geniosa demonstrou-o que o era e opiniática ao extremo, pois numa sociedade como a baiâna daquele tempo, visceralmente católica, não concordou em que o filho fosse batizado. Ela era pagã. O filho tambem devia sê-lo, pelo menos enquanto vivesse sob seus cuidados. E foi-o.

Insofrida, sem duvida. O filho revela-lhe a feição e o temperamento inquieto, envolvendo-se na política do tempo, quando o amante tomou parte na revolução do dr. Sabino.