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o sertanejo

     Justa denunciou no semblante a extranheza que lhe causavam as palavras do filho :

     — Pois não desobedeceste ao sr. capitão-mór, Arnaldo ?

     — Para desobedecer-lhe era preciso que elle tivesse o poder de ordenar-me que fosse um vil ; mas esse poder, elle não o possúe, nem alguem neste mundo. O sr. capitão-mór exigiu de mim que lhe entregasse Job, e eu recusei.

     — Mas, filho, o sr. capitão-mór não é o dono da Oiticica ? Não é elle quem manda em todo este sertão ? Abaixo de El-rei que está lá na sua côrte, todos devemos servi-lo e obedecer-lhe.

     — Pergunte aos passaros que andam nos ares, e às féras que vivem nas mattas, si conhecem algum senhor além de Deus ? Eu sou como elles, mãi.

     — Tu és meu filho, Arnaldo. Lembra-te do que foi para teu pai esta casa onde nasceste, e do que ainda é hoje para tua mãi.

     — Os beneficios, eu os pagarei sendo preciso com a minha vida ; mas essa vida que me deu, mãi, se eu a vivesse sem honra, meu pai lá do céo me retiraria sua benção.

     — Que vae ser de mim, Senhor Deus ? exclamou a sertaneja na maior afflicção.