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o sertanejo

do dezerto, tão poderosas manifestações da força tinham magestade e belleza epicas.

     Entretanto bastava um gesto seu para anniquilar o colosso. Estendesse elle o braço, travasse-lhe do pé e emborcasse-o no precipicio, que em um fechar d'olhos estaria o Moirão reduzido á migas, nas arestas dos alcantis.

     Arnaldo não demorou seu espirito nesta idéa sinão o tempo necessario para a repellir.

     Ao cabo de alguns instantes, desprendeu-se o rapaz do silencio em que se envolvera e donde não transpirava nem o sopro de seu halito ; algumas folhas rumorejavam em torno, e a casca do pau rangeu ao roçar do corpo que sentava-se.

     Como não bastasse esse tenue arruido para despertar o madraço, o rapaz quebrou uma haste de cipó. Com a folha que deixara em uma das pontas começou á fazer cocegas nas largas ventas rombas do Moirão, que dava com as mãos ás tontas para enxotar a mosca impertinente.

     Afinal abriu o dorminhoco as palpebras, pestanejou com a claridade do dia, esfregou os olhos e ficou pasmado á encarar com o Arnaldo, que se estava rindo, mui lampeiro, ali por cima delle, commodamente sentado em um ramo da arvore.