Para a casta e altiva donzela, o ato em que tomava parte não era um casamento, nem nesse instante a dominavam os enleios que a cerimônia nupcial produz naturalmente em uma virgem, e os sentimentos que desperta êsse transe solene da vida.

D. Flor não se recordava nessa hora senão que ia vingar a sua dignidade ultrajada, e desafrontar o orgulho de seu pai escarnecido pela insolência do Fragoso.

Os mais antigos lembraram-se de D. Genoveva, quando vinte anos antes, e moça gentil como a filha, o capitão-mór Campelo a conduzira o altar, vestida com aquelas mesmas roupas e adereços de gala, que serviam agora a D. Flor.

Naquele tempo era assim, os estofos e fazendas tinham tal dura que passavam de pais a filhos e transmitiam-se por muitas gerações. Hoje em dia os tecidos merecem a mesma fé que as palavras e as ações do homem; são uns ouropéis, de um brilho efêmero, que desaparecem com as modas.

Porisso, quando na véspera Campelo comunicou sua resolução a D. Genoveva, esta não careceu para preparar o trajo de noiva da filha senão de abrir o baú