Que valem palavras, quando ouve-se o peito
E as vidas se fundem no ardor da paixão?
Oh! ceos! eram mundos... ai! mais do que mundos
Que a mente invadiam de ethereo fulgor!
Poemas divinos por Deus inspirados,
E a furto contados em beijos de amor!
No fim do seu gyro, da noite a princeza
Deixou-nos unidos em brando sonhar;
Correram as horas, — e a luz d’alvorada
Em juras infindas nos veio encontrar!
Não são dos invernos as frias geadas,
Nem longas jornadas que os annos apontam...
O tempo descora nos risos e prantos,
E os dias do homem por dôres se contam!
Ligeira... essa noite de infindas venturas
Sómente em minh’alma lembranças deixou...
Três mezes passaram, e o sino do templo
Á reza dos mortos os homens chamou!
Três mezes passaram e um livido corpo
Jazia dos cyrios á luz funeral,
E, á sombra dos myrtos, o rude coveiro
Abria cantando seu leito final!...
Nós eramos jovens, e a senda terrestre
Trilhavamos juntos, de amor a sorrir,
E as flôres e os ventos nos vinham no ouvido
Contar os arcanos de um longo porvir!
Página:Obras completas de Fagundes Varela (1920), I.djvu/130
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