Nós éramos jovens, e as balsas floridas
O espaço inundavam de quentes perfumes,
E o vento chorava nas tilias do parque,
E a lua soltava seus tepidos lumes!...
Ah! misero aquelle que as sendas do mundo
Trilhou sem o aroma de pallida flôr,
E á tumba declina, n’aurora dos sonhos,
O labio inda virgem dos beijos de amor!
Não são dos invernos as frias geadas,
Nem longas jornadas que os annos apontam
O tempo descora nos risos e prantos,
E os dias do homem por gozos se contam.
Assim n’essa noite de mudas venturas,
De louros eternos minh’alma ennastrei;
Que importa-me agora martyrios e dôres,
Se outr’ora dos sonhos a taça esgotei?
Ah! lembra-me ainda! nem um candelabro
Lançava ao recinto seu brando clarão,
Apenas os raios da pallida lua
Transpondo as janellas batiam no chão.
Vestida de branco, nas scismas perdida,
Seu morbido rosto pousava em meu seio,
E o aroma celeste das negras madeixas
Minh’alma inundava de férvido anceio.
Nem uma palavra seus labios queridos
Nos dôces espasmos diziam-me então:
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