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TRISTEZA

Eu amo a noite com seu manto escuro
De tristes goivos coroada a fronte
Amo a neblina que pairando ondeia
Sobre o fastigio de elevado monte.

Amo nas plantas, que na tumba crescem,
De errante briza o funeral cicio:
Porque minh’alma, como a sombra, é triste,
Porque meu seio é de illusões vazio.

Amo a deshoras sob um céo de chumbo,
No cemiterio de sombria serra,
O fogo-fatuo que a tremer doudeja
Das sepulturas na revolta terra.

Amo ao silencio do hervaçal partido
De ave nocturna o funerario pio,
Porque minh’alma, como a noite, é triste,
Porque meu seio é de illusões vazio.

Amo do templo, nas soberbas naves,
De tristes psalmos o troar profundo;
Amo a torrente que na rocha espuma
E vai do abysmo repousar no fundo.