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Amo a tormenta, o perpassar dos ventos,
A voz da morte no fatal parcel,
Porque minh’alma só traduz tristeza,
Porque meu seio se abrevou de fel.

Amo o corisco que deixando a nuvem
O cedro parte da montanha, erguido,
Amo do sino, que por morto sôa,
O triste dobre n’amplidão perdido.

Amo na vida de miseria e lôdo,
Das desventuras o maldito sello,
Porque minh’alma se manchou de escarneos,
Porque meu seio se cobriu de gelo.

Amo o furor do vendaval que ruge,
Das azas negras sacudindo o estrago;
Amo as metralhas, o bulcão de fumo,
De corvo as tribus em sangrento lago.

Amo do nauta o doloroso grito
Em fragil prancha sôbre mar de horrores,
Porque meu seio se tornou de pedra,
Porque minh’alma descorou de dôres.

O céo de anil, a viração fagueira,
O lago azul que os passarinhos beijam,
A pobre choça do pastor no valle,
Chorosas flôres que ao sertão vicejam,

A paz, o amor, a quietação e o riso
A meus olhares não têm mais encanto,
Porque minh’alma se despiu de crenças,
E do sarcasmo se embuçou no manto.


... 1861.