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Ela passava pensativa, — meiga
Como um gênio de Óssian; nos meus versos
Seu doce nome ressoava sempre!
Debalde procurei riscar da mente
Essa imagem divina, — parecia
Que o destino a ligava à minha vida!

Todas as taças de um viver sem gozo
Traguei descrido. De minh'alma as flores
No lodo mergulhei, e inda tão cedo
Me perdi em profundos desvarios!
Fui no recinto em que circula o vício,
Ao clarão da candeia fumarenta,
Pender à negra mesa — empalecido —
Gastando as noites no fervor do jogo!
Tonto de vinho, — desvairado em febre, —
Elevei minha taça transbordando
Entre blasfemias e obscenos cantos!
E nos gritos da orgia, — e no delírio —
Uma voz sonorosa me acordava
Do longo pesadelo de minh'alma,
— E eu soluçava me lembrando dela!

Coberto de tristeza e de saudades,
Quebrei a ausencia, atravessei os mares,
Vim a vida buscar ante seus olhos.
Após tão longo exílio, ardendo em gozo,
O coração pulsando de alegria,
Aos lares dela dirigi meus passos.
Mas silencio!... um véu negro, impenetrável,
Cubra esse quadro que meus olhos viram;
Durma na sombra de um olvido eterno
Esse mistério fúnebre, banhado
De lágrimas de sangue! E tu, minh'alma,