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XII
Em breve tempo os golpes compassados
De uma enxada pesada, começaram
A cair sobre a terra, lentamente
Abrindo o último leito da inditosa.
O feroz africano prosseguia
No seu lúgubre ofício sem ao menos
Levantar a cabeça. Alguns minutos
Já tinham decorrido quando em frente
Uma voz retumbante levantou-se
Fazendo ouvir-lhe o nome, o brônzeo monstro
Parou, volveu em torno o olhar selvagem,
E murmurou estremecendo: - Mauro!...
XIV
Sim, era Mauro, e quão mudado estava!
Dias sem luzes, noites sem descanso,
Tinham dez anos lhe roubado a vida!
Naquela fronte cismadora e doce,
Onde luziu resignação outrora,
Passavam nuvens de fatal vingança,
De planos infernais! Naqueles olhos
Donde incessante vislumbrava o gênio,
O gênio que o Senhor prefere às vezes
Sobre a choça lançar do que nos paços,
O gênio que alimenta-se de dores
E vive de amargor, naqueles olhos
Raios de sangue se cruzavam, rápidos!
A face descarnara-se, os cabelos,
Os cabelos, oh! Deus, negros, luzentes,
Em poucos dias alvejaram! Ma