Não posso sem te ver desejar vista;
Na tua vista só se via a glória,
Não ver a glória tua he ver meu damno.
Não via maior glória que meu damno,
Quando do damno meu eras contente:
Agora me he tormento a maior glória,
Que póde prometter-me Amor na vida,
Pois tornar-te não póde á minha vista,
Que só na tua achava a luz do dia.
E pois de dia em dia cresce o damno,
Nem posso sem tal vista ser contente,
Só com perder a vida acharei glória.
SEXTINA IV.
Sempre me queixarei desta crueza
Que Amor usou comigo quando o tempo,
A pezar de meu duro e triste fado,
A meus males queria dar remedio,
Em apartar de mi aquella vista,
Por quem me contentava a triste vida.
Levára-me, oxalá, traz ella a vida,
Para que não sentira esta crueza
De me ver apartado de tal vista!
E praza a Deos não veja o proprio tempo
Em mi, sem esperança de remedio,
A desesperação d’hum triste fado!
Porém ja acabe o triste e duro fado!