Porque aos olhos que vivem descontentes,
Descontente o prazer se lhes figura.
Oh graves e insoffriveis accidentes
De Fortuna e d’Amor! que penitencia
Tão grave dais aos peitos innocentes!
Não basta examinar-me a paciencia
Com temores e falsas esperanças,
Sem que tambem me tente o mal de ausencia?
Trazeis hum brando espirito em mudanças,
Para que nunca possa ser mudado
De lagrimas, suspiros e lembranças.
E s’estiver ao mal acostumado,
Tambem no mal não consentis firmeza,
Para que nunca viva descansado.
Ja quieto m’achava co’a tristeza;
E alli não me faltava hum brando engano.
Que tirasse desejos da fraqueza.
Mas vendo-me enganado estar ufano,
Deo á roda a Fortuna; e deo comigo
Onde de novo chóro o novo dano.
Ja deve de bastar o que aqui digo,
Para dar a entender o mais que calo
A quem ja vio tão aspero perigo.
E se nos brandos peitos faz abalo
Hum peito magoado e descontente,
Que obriga a quem o ouve a consolá-lo;
Não quero mais senão que largamente,
Senhor, me mandeis novas dessa terra;
Que alguma dellas me fara contente.
Porque se o duro Fado me desterra
Tanto tempo do bem, que o fraco esprito
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