Página:Obras completas de Luis de Camões III (1843).djvu/189

190


ELEGIA VIII.

Belisa, unico bem desta alma triste,
Descanso singular de minha vida,
Throno donde o poder d’Amor consiste;

Formosa fera, a quem está rendida
D’Amor a que he mais livre liberdade,
Ganhada mais, se mais por ti perdida;

Quão contrário parece na beldade,
Que os corações captiva com brandura,
Alguma nódoa haver de crueldade!

Quão contrário parece em formosura,
Que deixa muito atraz quanto he humano,
Esquiva condição, ou alma dura!

Quão mal parece em quem só co’hum engano
Póde dar vida ao coração sujeito,
Dar-lhe, em lugar de vida, hum mortal dano!

Quão mal parece que hum amor perfeito
Não seja d’outro igual remunerado,
Inda que seja, acaso, contrafeito!

Quão mal parece estar desesperado
Quem tanto por ti soffre e tẽe soffrido,
Devendo estar de penas alliviado!

Porém peor parece quem rendido
Não for a hum parecer que tudo rende,
Por mais qu’em seu rigor viva offendido.

E inda peor parece quem defende
O ser essa belleza sempre amada,
Por mais qu’em vão se canse o que a pretende.

Se quem te mostra amor te desagrada,
Só pódes pretender o não ser vista,