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Está nas mãos dos homens comettellas,
E nas de Deos está o successo dellas.

Sei eu, e sabem todos que os futuros
Verão por vós o Estado accrescentado,
Serão memoria vossa os fortes muros
Do Cambaico Damão bem sustendado:
Da ruina mortal serão seguros,
Tendo todo o alicerce seu fundado
Sôbre orfãas amparadas com maridos,
E pagos os serviços bem devidos.

Quãmanha infamia ao Principe he perder-se
Pouco do Estado seu, que inteiro herdou,
Tanto por glória grande deve ter-se
Se accrescentado e próspero o deixou.
Nunca consentio Roma ennobrecer-se
Com triumphos alguem, se não ganhou
Provincia com que o Imperio s’augmentasse,
Por maiores victorias qu’alcançasse.

Póde tomar o vosso nome dino
Damão, por honra sua clara e pura,
Como ja do primeiro Constantino
Tomou Byzancio aquelle qu’inda dura.
E tu, Rei, que no Reino Neptunino,
Lá no seio Gangetico a Natura
Te aposentou, de ser tão inimigo
Deste Estado não ficas sem castigo.

Bem viste contra ti nadantes aves
Cortar a espumosa ágoa navegando;
Ouviste o som das tubas, não suaves,
Mas com temor horrifero soando;
Sentiste os golpes asperos e graves