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AMBROSIO.


Não! quanté disso nós havemos-lhe de ver fazer alguma cousa, em quanto se
vestem as figuras. Aindaque, para que he mais Auto, que vermos a este?

MORDOMO.


Vem cá, moço: dize aquella trova que fizeste á moça Briolanja, por amor
de mi!

MOÇO.


Senhor, si, direi; mas aquella trova não he senão para quem a entender.

MARTIM.


Como! Tão escura he ella?

MOÇO.


Senhor, assi a fiz e a escrevi na memoria, porque eu não sei escrever
senão com carvão; e porém diz assi:

<poem>
Por amor de vós, Briolanja,
Ando eu morto,
Pezar de meu avô torto.

MARTIM.

Oh como he galante! Que descuido tão gracioso! Mas vem cá: que culpa te tẽe teu avô nos desfavores que te tua dama dá?

MOÇO.

Pois, Senhor, se eu houve de pezar de alguem, não pezarei eu antes dos meus parentes, que dos alheios?

MORDOMO.

Pois oução vossas mercês a volta; que he mais cheia de gavetas, que trombeta de Serenissimo de la Valla. </poem>