Página:Obras completas de Luis de Camões III (1843).djvu/31

32

No que mostrava a mentira.

Mas despois ja de cansadas
As furias do imaginar,
Vinha emfim a rebentar
Em lagrimas magoadas,
E bem para magoar.
E deixando-se vencer
Os meus fingidos enganos
De tão claros desenganos,
Não posso menos fazer,
Que contentar-me co’os danos.

E pedir que me tirassem
Este mal de suspeitar
Que me vejo atormentar,
Indaque me confessassem
Quanto me póde matar.
Olhae bem se me trazeis,
Senhora, pôsto no fim;
Pois neste estado a que vim,
Para que vós confesseis,
Se dão os tratos a mim.

Mas para que tudo possa
Amor, que tudo encaminha,
Tal justiça lhe convinha;
Porque da culpa, qu’he vossa,
Venha a ser a morte minha.
Justiça tão mal olhada
Olhae com que côr se doura,
Que quero, ao fim da jornada,
Que vós sejais confessada,
Para qu’eu seja o que moura!