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Ou vêde para dar vida.
Ou se quereis escusar
Estes males que causastes,
Resuscitae quem matastes,
Não tereis por quem rezar.

A HUMA DAMA QUE LHE DEO HUMA PENNA.


Se n’alma e no pensamento
Por vosso me manifesto,
Não me peza do que sento;
Que se não soffrer tormento,
Faço offensa a vosso gesto.
E, pois quanto Amor ordena,
E quanto est’alma deseja,
Tudo á morte me condena,
Não quero senão que seja
Tudo pena, pena, pena.

A HUMA DAMA QUE LHE CHAMOU CARA SEM OLHOS.


Sem olhos vi o mal claro,
Que dos olhos se seguio:
Pois cara sem olhos vio
Olhos, que lhe custão caro.
D’olhos não faço menção,
Pois quereis que olhos não sejão;
Vendo-vos, olhos sobejão,
Não vos vendo, olhos não são.