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SONETOS.
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CXX.

Tornae essa brancura á alva assucena,
E essa purpurea côr ás puras rosas;
Tornae ao sol as chammas luminosas
De essa vista que a roubos vos condena.

Tornae á suavissima sirena
D'essa voz as cadencias deleitosas:
Tornae a graça ás Graças, que queixosas
Estão de a ter por vós menos serena:

Tornae á bella Venus a belleza;
A Minerva o saber, o engenho, e a arte;
E a pureza á castissima Diana.

Despojae-vos de toda essa grandeza
De dões; e ficareis em toda parte
Comvosco só, que he só ser inhumana.



CXXI.

De mil suspeitas vãas se me levantão
Trabalhos e desgostos verdadeiros.
Ai que estes bens de Amor são feiticeiros,
Que com hum não sei que toda alma encantão!

Como serêas docemente cantão
Para enganar os tristes marinheiros:
Os meus assi me attrahem lisongeiros,
E despois com horrores mil me espantão.

Quando cuido que tomo porto ou terra,
Tal vento se levanta em hum instante,
Que subito da vida desconfio.

Mas eu sou quem me faz a maior guerra,
Pois conhecendo os riscos de hum amante
Fiado a ondas de Amor, dellas me fio