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SONETOS.
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CXXXVI.

Árvore, cujo pomo bello e brando
Natureza de leite e sangue pinta,
Onde a pureza, de vergonha tinta,
Está virgineas faces imitando;

Nunca do vento a ira, que arrancando
Os troncos vai, o teu injúria sinta;
Nem por malícia de ar te seja extinta
A côr que está teu fructo debuxando.

E pois emprestas doce e idoneo abrigo
A meu contentamento, e favoreces
Com teu suave cheiro a minha gloria;

Se eu não te celebrar como mereces,
Cantando-te, se quer farei comtigo
Doce nos casos tristes a memoria.



CXXXVII.

O filho de Latona esclarecido,
Que com seu raio alegra a humana gente,
Matar pôde a Phytonica serpente
Que mortes mil havia produzido.

Ferio com arco, e de arco foi ferido,
Com ponta aguda de ouro reluzente:
Nas Thessalicas praias docemente
Por a nympha Penea andou perdido.

Não lhe pôde valer contra seu dano
Saber, nem diligencias, nem respeito
De quanto era celeste e soberano.

Pois se hum deos nunca vio nem hum engano
De quem era tão pouco em seu respeito,
Eu qu'espero de hum ser, qu'he mais que humano?