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SONETOS.


CXLII.

Diversos dões reparte o Ceo benino,
E quer que cada huma alma hum só possua;
Por isso ornou de casto peito a Lua,
Que o primeiro orbe illustra crystallino;

De graça a Mãe formosa do Menino,
Que nessa vista tẽe perdido a sua;
Pallas de sciencia não maior que a tua:
Tẽe Juno da nobreza o imperio dino.

Mas junto agora o largo Ceo derrama
Em ti o mais que tinha, e foi o menos
Em respeito do Autor da natureza.

Que a seu pezar te dão, formosa dama,
Seu peito a Lua, sua graça Venos,
Sua sciencia Pallas, Juno sua nobreza.



CXLIII.

Gentil Senhora, se a Fortuna imiga,
Que contra mi com todo o Ceo conspira,
Os olhos meus de ver os vossos tira,
Porque em mais graves casos me persiga;

Comigo levo esta alma, que se obriga
Na mor pressa de mar, de fogo, e d'íra,
A dar-vos a memoria, que suspira
Só por fazer comvosco eterna liga.

Nesta alma, onde a fortuna póde pouco,
Tão viva vos terei, que frio e fome,
Vos não possão tirar, nem mais perigos.

Antes, com som de voz trémulo e rouco
Por vós chamando, só com vosso nome
Farei fugir os ventos, e os imigos.