CCLXXVIII.
Senhora ja desta alma, perdoae
De hum vencido de Amor os desatinos,
E sejão vossos olhos tão beninos
Com este puro amor, que d'alma sae.
A minha pura fé sómente olhae,
E vêde meus extremos se são finos;
E se de alguma pena forem dinos,
Em mim, Senhora minha, vos vingae.
Não seja a dor que abraza o triste peito
Causa por onde pene o coração,
Que tanto em firme amor vos he sujeito.
Guardae-vos do que alguns, dama, dirão,
Que sendo raro em tudo vosso objeito,
Possa morar em vós ingratidão.
CCLXXIX.
Doce sonho, suave e soberano,
Se por mais longo tempo me durára!
Ah quem de sonho tal nunca acordára,
Pois havia de ver tal desengano!
Ah deleitoso bem! ah doce engano!
Se por mais largo espaço me enganára!
Se então a vida misera acabára,
De alegria e prazer morrêra ufano.
Ditoso, não estando em mi, pois tive
Dormindo o que acordado ter quizera.
Olhae com que me paga meu destino!
Em fim, fóra de mim ditoso estive.
Em mentiras ter dita razão era,
Pois sempre nas verdades fui