quando fossem alheias da linguagem vulgar, quem as estranharia na poesia, que de sua natureza se deve levantar do uso commum de fallar? Permitte-se a Virgilio dizer n'uma Egloga:
Ipsae te, Tityre, pinus,
Ipsae te fontes, ipsae haec arbusta vocabant.
Estes pinheiros, Tityro, estas fontes,
Estes mesmos arbustos te chamavão.
e não se hade consentir a Camões dizer:
Canta agora, pastor, que o gado pasce
Entre as humidas hervas socegado,
E lá nas altas serras onde nasce,
O sacro Tejo á sombra recostado
Com seus olhos no chão, a mão na face,
Está para te ouvir apparelhado;
E com silencio triste estão as Nymphas
Dos olhos destillando claras lymphas?
Emfim nesta admiravel Egloga nada falta da parte do poeta; se alguma cousa faltar, será da parte do leitor. Passemos agora á 6.ª
Nesta Egloga mistura o poeta o estilo pastoril e o piscatorio, de que elle foi entre nós o primeiro introductor, e que levou a tal perfeição, que desanimou os que depois se seguírão a ponto, que ficou quasi de todo esquecido. He o seu argumento uma contenda entre um pastor e um pescador sobre qual dos estilos deve ter a preferencia, cantando cada um a belleza