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Nem águas desejava, nem quentura;
Suppria então natura o necessario.
Pois quem foi tão contrário a esta vida?
Saturno, que, perdida a luz serena,
Causou, qu'em dura pena, desterrado,
Fosse do ceo lançado, onde vivia;
Porque os filhos comia, que gerava.
Por isso se mudava o tempo igual
Em mais baixo metal: e assi descendo
Nos veio, emfim, trazendo a este estado.
Mas eu, desatinado, aonde vou?
Para onde me levou a phantasia?
Qu'estou gastando o dia em vãas palavras?
Quero ora minhas cabras ir levando
Ao Tejo claro e brando; porque achar
No mundo qu'emendar, não he d'agora:
Basta que a vida fóra delle tenho:
Com meu gado me avenho, e estou contente.
Porém, se me não mente a vista, eu vejo
Nesta praia do Tejo estar deitado
Almeno, que enlevado em pensamentos,
As horas e os momentos vai gastando:
Vou-me a elle chegando, só por ver
Se poderei fazer que o mal que sente,
Hum pouco se lhe ausente da memoria.
ALMENO.
Oh doce pensamento! oh doce gloria!
São estes por ventura os olhos bellos,
Que tẽe de meus sentidos a victoria?
São estas, Nympha, as tranças dos cabellos,
Que fazem de seu preço o ouro alheio,{170}