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Vivo de poder mais tornar a ver-te.
A vida só me dá tua lembrança;
A vida sôbre tudo m'entristece;
A vida antes perdêra, que perder-te.
Mas eu se, por querer-te
Hum bem qu'em ti só tẽe seu firme assento,
Padeço tal tormento,
Qu'esperará de ti quem te desama,
Ou quem ao menos te ama
Com algum falso amor, ou fé fingida?
Perca, quem te perdeo, tambem a vida.
DURIANO.
Então, cruel, verás se te merece
Com tamanho desprêzo ser tratada
Hum'alma, que d'amar-te só se preza.
Mas como poderás ser desprezada,
Se o menos qu'em ti fóra se parece,
Póde abrandar dos montes a aspereza?
Porque se a natureza
Em ti o remate poz da formosura,
Qual será a pedra dura,
Qu'a teu valor resista brandamente?
Que fará a fraca gente,
Se ao humano parecer não se defende,
E a mesma Venus deosa ao teu se rende?
FRONDOSO.
E pois fé verdadeira, amor perfeito,
Tormento desigual e vida triste,
Junta com hum contino soffrimento,
E hum mal, em que o mal todo, emfim, consiste,
Não puderão mover teu duro peito{200}