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  Puderão os teus rogos abrandar-me:
Os meus (triste de mi!) mais te endurecem.
Ja não acho em que possa confiar-me.
  Aquelles doces versos ja t'esquecem,
Que tu nos lisos álamos cortavas,
Onde com teus enganos inda crescem?
  Arder por meu amor nelles mostravas:
Eu, crendo que era assi, não entendia
Quanto fingiste amar, quão pouco amavas.
  Tristes meus fados forão, triste o dia
Em que nasci: coitada de mi triste,
Qu'em mágoa se tornou minha alegria!
  Logo que a tua Galatêa viste,
Vi eu deste meu mal grandes agouros;
E tu da parte esquerda hum corvo ouviste.
  E não tẽe Galatêa mais thesouros,
Nem tẽe mais formosura, inda que seja
Ou d'alvo rosto, ou de cabellos louros.
  Á negra violeta tẽe inveja
O branco lirio, porque tal não tem
O cheiro, que vencido não se veja.
  Tityro arde por mi; Tityro, a quem
Mil Nymphas dão capellas de mil flores;
Mas elle a mi só chama, a mi quer bem.
  Eu desprézo por ti muitos pastores,
E tu por Galatêa me desprezas!
Tal pago dás, cruel, a meus amores?
  Em que te mereci tantas cruezas,
Quantas usas comigo? Por ventura
Usei comtigo d'ira, ou d'asperezas?
  Prouvera a Deos que tão isenta e dura{277}