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de CAMÕES.
XXXIII

mandárão para a Universidade que de Lisboa (para onde a trouxera Dom Fernando) acabava de ser então restituida a Coimbra por João III, e florescia em todas as sciencias sob a direcção e disciplina de homens doutos, naturaes e estrangeiros, que este Rei com largos premios de toda a parte attrahíra. Com tão felizes disposições e tão sabios preceptores, não podia Luis de Camões deixar de fazer agigantados progressos, e de vir a ser o que foi.

Aqui teve elle os seus primeiros amores, e se começou a dar ao commercio das Musas, que encantadas de tão gentil alumno, o prendárão des de logo com aquella doce lyra, que depois lhe adquirio mais fama que ventura. E desse tempo de Coimbra he a sua Egloga 5.ª, que parece ter sido o seu primeiro ensaio no estilo pastoril, pois que nas primeiras edições se entitula da sua puericia, por se haver encontrado com esse titulo em todos os manuscriptos, e tambem o Soneto 111, que segundo delle se infere, foi feito quando voltava de férias, ja ferido de outra paixão.

Concluidos os seus estudos, voltou á Corte: e com que saudade se apartasse daquella deliciosa habitação, onde lhe ficava o doce emprêgo de seus cuidados, se póde ver do Soneto 133, feito nesta despedida. Restituido á patria, cheio de tão saudosas lembranças, ahi escreveo aquella maviosa Canção que principia:

Vão as serenas ágoas
Do Mondego descendo etc.

Mas em quanto ao som da lyra entoava este harmonioso canto, lhe estava Amor preparando novo assumpto.