Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/418

Vemos, que o proprio Escopas não fizera;
Em ti, co'a paz interna,
Tẽe o santo prazer morada eterna.
  Os jardins da famosa
Babel, tão nomeados,
Por maravilha o mundo não levante,
Inda que com gloriosa
Voz, qu'estão pendurados
Do instavel ar, a fama antigua cante:
Nem haja quem s'espante
Dos famosos d'Alcino;
Nem as mais doutas pennas
Cantem os de Mecenas,
Cultor de todo engenho peregrino;
Mas onde quer que vôe,
De ti só falle a Fama, e te pregôe.
  Que s'era antiguamente
De pomos d'ouro bellos
O jardim das Hesperidas ornado;
E, a pezar da serpente
Que os guardou, só colhellos
Pôde o famoso Alcides, d'esforçado;
Tu, mais avantajado,
Mostras a hum'alma casta
Seguir o que deseja,
Fugir da torpe inveja
(Pomos d'ouro que o tempo não contrasta):
Emfim, co'a caridade
Vencer o Inferno, abrir a Eternidade.
  Por tanto da ventura,
Para ti reservada,{345}