a morte,{357}
A esperança do bem tenho perdida.
Ai quão devagar passa a triste vida!
Quantas vezes eu triste aqui ouvia
O meu Felicio, e outros mil pastores,
Queixar-se em vão de minha crueldade!
E mais surda então eu a seus clamores,
Que aspide surda, ou surda penedia,
Julgava os seus amores por vaidade.
Agora em pago disto a liberdade,
A vontade e o desejo
De todo entregue vejo
A quem, inda que brade, não responde;
Pois vejo que s'esconde
Ja debaixo da terra este qu'eu chamo,
Que he aquelle a quem amo,
Aquelle a quem agora estou rendida.
Ai quão devagar passa a triste vida!
Que gloria, Amor cruel, com meu tormento,
Que louvor a teu nome accrescentaste?
Ou que te constrangeo a tal crueza,
Que com tal pressa esta alma sujeitaste
A hum mal, onde não basta o soffrimento?
Mas se, Amor, es cruel de natureza,
Bastava usar comigo da aspereza
Que usas com outra gente:
Mas tu como somente
De ver-me estar morrendo te contentas,
Quando mais me atormentas,
Então desejas mais d'atormentar-me;
E não queres matar-me{358}