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Suas sombras formosas;
Para ti o Erymantho e o lindo Pylio
As mais purpureas rosas;
E as drogas mais cheirosas
Desse nosso Oriente
Guarda a felice Arabia mais contente.
  De qual panthera, ou tigre, ou leopardo
As asperas entranhas
Não temêrão teu fero e agudo dardo,
Quando por as montanhas
Mais remotas e estranhas
Ligeira atravessavas,
Tão formosa que a Amor d'amor matavas?
  Pois, Delia, do teu ceo vendo estás quantos
Furtos de purídades,
Suspiros, mágoas, ais, musicas, prantos,
As conformes vontades,
Humas por saudades,
Outras por crus indicios
Fazem das proprias vidas sacrificios:
  Ja veio Endymião por estes montes
O ceo, suspenso, olhando,
E teu nome, co'os olhos feitos fontes,
Em vão sempre chamando,
Pedindo (suspirando)
Mercês á tua beldade,
Sem que ache em ti hum'hora piedade.
  Por ti feito pastor de branco gado
Nas selvas solitarias,
Só de seu pensamento acompanhado,
Conversa as alimarias,{362}