Quando acaso virais
Os olhos, que de mi não fazem caso,
Todo, gentil Senhora, então me abraso
Na luz que me consume,
Bem como a borboleta faz no lume.
Se mil almas tivera
Que a tão formosos olhos entregára,
Todas quantas pudera
Por as pestanas delles pendurára;
E, enlevadas na vista pura e clara,
(Postoque disso indinas)
Se andárão sempre vendo nas meninas.
E vós, que descuidada
Agora vivereis de taes querellas,
D'almas minhas cercada,
Não pudesseis tirar os olhos dellas;
Não póde ser que, vendo a vossa entr'ellas
A dor que lhe mostrassem,
Tantas huma alma só não abrandassem.
Mas, pois o peito ardente
Huma só póde ter, formosa Dama,
Basta que esta somente,
Como se fossem mil e mil, vos ama,
Para que a dor de sua ardente flama
Comvosco tanto possa,
Que não queirais ver cinza hum'alma vossa.{