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de CAMÕES.
XLI

em Outubro, e Francisco Barreto entrou no governo em Junho do mesmo anno, como dissemos. Tambem he falso que Luis de Camões, voltando de Macao a Goa, fosse preso por Francisco Barreto, pelo dinheiro das partes que perdêra no naufragio, porque nem isso lhe podia ser imputado a crime, não estando em sua mão evitar um tal desastre, nem Francisco Barreto o podia mandar prender, porque em Setembro de 1558 entregou elle o governo ao Viso-Rei Dom Constantino, e Camões voltou a Goa depois do anno de 1560. E a falsidade da asserção de Mariz, que o poeta viera preso e capitulado para o Reino, se prova com a outra sua asserção, que Pedro Barreto, indo por governador de Çofala, e desejando levar a Luis de Camões na sua companhia, lhe fizera largas promessas e o movêra a isso, dando-lhe logo duzentos cruzados para os seus arranjos de viagem, porque se tudo isto foi necessario para o mover, certo he que estava em sua plena liberdade.

Vejamos agora se este desterro do poeta seria, como pensão Manoel Severim e Manoel de Faria e Sousa, em consequencia da Satyra ou das Redondilhas, que andão nas suas Rimas com o titulo de Disparates na India.

Pelas Redondilhas não podia ser, porque se o poeta alguns vicios ahi reprehende, o faz de um modo tão geral, que ninguem em particular se poderia dar por offendido; e pela Satyra tambem não; e as razões em que nos fundamos são estas: O desterro de Camões foi uma cousa notoria a seus contemporaneos, assim porque muitos havião sido testimunhas do mesmo