Não sabe o Tempo ter firmeza em nada;
E a nossa vida escassa
Foge tão apressada,
Que quando se começa he acabada.
Que se fez dos Troianos
Heitor temido, Enêas piedoso?
Consumírão-te os anos,
Ó Cresso tão famoso,
Sem te valer teu ouro precioso.
Todo o contentamento
Crias qu'estava em ter thesouro ufano!
Oh falso pensamento!
Que á custa de teu dano
Do sabio Solon crêste o desengano.
O bem que aqui se alcança,
Não dura por passante, nem por forte:
Que a bem-aventurança
Duravel, de outra sorte
Se ha de alcançar na vida para a morte.
Porque, emfim, nada basta
Contra o terrivel fim da noite eterna;
Nem póde a deosa casta
Tornar á luz superna
Hippolyto da escura sombra averna.
Nem Thesêo esforçado,
Ou com manha, ou com fôrça valerosa,
Livrar póde o ousado
Perithoo da espantosa
Prisão Lethêa escura e tenebrosa.{383}