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ODE X.
Aquelle moço fero
Nas Pelethronias covas doctrinado
Do Centauro severo;
Cujo peito esforçado
Com tutanos de tigres foi criado.
  N'ágoa fatal menino
O lava a mãe, presaga do futuro,
Para que ferro fino
Não passe o peito duro
Que de si mesmo a si se tẽe por muro.
  A carne lh'endurece,
Porque não seja d'armas offendida.
Cega! pois não conhece
Que póde haver ferida
N'alma, e que menos doe perder a vida.
  Que donde o braço irado
Dos Troianos passava arnez e escudo,
Alli se vio passado
Daquelle ferro agudo
Do menino qu'em todos póde tudo.
  Alli se vio captivo
Da captiva gentil que serve e adora;
Alli se vio que vivo
Em vivo fogo mora,
Porque de seu senhor a vê senhora.
  Ja toma a branda lyra{384}