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SONETOS.
11


XX.

N'hum bosque, que das Nymphas se habitava,
Sibella, Nympha linda, andava hum dia;
E subida em huma árvore sombria,
As amarellas flores apanhava.

Cupido, que alli sempre costumava
A vir passar a sésta á sombra fria,
Em hum ramo arco e settas, que trazia,
Antes que adormecesse, pendurava

A Nympha, como idoneo tempo víra
Para tamanha empresa, não dilata;
Mas com as armas foge ao moço esquivo.

As settas traz nos olhos, com que tira.
Ó Pastores! fugi, que a todos mata,
Senão a mim, que de matar-me vivo.



XXI

Os Reinos e os Imperios poderosos,
Que em grandeza no mundo mais crescêrão;
Ou por valor de esfôrço florecêrão,
Ou por Barões nas letras espantosos.

Teve Grecia Themistocles famosos;
Os Scipiões a Roma engrandecêrão;
Doze Pares a França gloria derão;
Cides a Hespanha, e Laras bellicosos.

Ao nosso Portugal, que agora vemos
Tão differente de seu ser primeiro,
Os vossos derão honra e liberdade.

E em vós, grão successor e novo herdeiro
Do Braganção Estado, ha mil extremos
Iguaes ao sangue, e móres que a idade.