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Acordei-me na treva... profanando
Os puros sonhos meus!
 
Oh! se eu pudesse amar!... — É impossível!
Mão fatal escreveu na minha vida...
A dor me envelheceu...
O desespero pálido, impassível,
Agoirou minha aurora entristecida,
De meu astro descreu...
 
Oh! se eu pudesse amar! Mas não: agora
Que a dor emurcheceu meus breves dias,
Quero na cruz sanguenta
Derramá-los na lágrima que implora,
Que mendiga perdão pela agonia
Da noite lutulenta!
 
Quero na solidão... nas ermas grutas
A tua sombra procurar chorando
Com meu olhar incerto...
As pálpebras doridas nunca enxutas
Queimarei... teus fantasmas invocando
No vento do deserto.
 
De meus dias a lâmpada se apaga,
Roeram meu viver mortais venenos,