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Curvo-me ao vento forte:
Teu fúnebre clarão que a noite alaga,
Como a estrela oriental, me guie ao menos
' Té ao vale da morte!
 
No mar dos vivos o cadáver bóia,
A lua é descorada como um crânio,
Este sol não reluz...
Quando na morte a pálpebra se engóia,
O anjo desperta em nós e subitânio
Voa ao mundo da luz!
 
Do val de Josafá pelas gargantas
Uiva na treva o temporal sem norte
E os fantasmas murmuram...
Irei deitar-me nessas trevas santas,
Banhar-me na friez lustral da morte,
Onde as almas se apuram!
 
Mordendo as clinas do corcel da sombra,
Sufocado, arquejante passarei
Na noite do infinito...
Ouvirei essa voz que a treva assombra,
Dos lábios de minh'alma entornarei
O meu cântico aflito!