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Em que a infâmia, Dagon cheio de lodo,
Recebe as orações, mirras e flores...
E a louca multidão renega o Cristo!
Tua loucura revelava brio:
No triste livro do imortal Cervantes
Não posso crer um insolente escárnio
De cavaleiro andante aos nobres sonhos,
Ao fidalgo da Mancha, cuja nódoa
Foi só ter crido em Deus e amado os homens
E votado seu braço aos oprimidos.
Aquelas folhas não me causam riso,
Mas desgosto profundo e tédio à vida.
Soldado e trovador, era impossível
Que Cervantes manchasse um valeroso
Em vil caricatura! e desse à turba,
Como presa de escárnio e de vergonha,
Esse homem que à virtude, amor e cantos
Abria o coração!...

Estas ideias
Servem para desculpa do poeta.
Apesar de bom moço o autor da peça
Tem uns laivos talvez de Dom Quixote...
E nestes tempos de verdade e prosa
— Sem Gigantes, sem Mágicos medonhos
Que velavam nas torres encantadas