Página:Obras de Manoel Antonio Alvares de Azevedo v2.djvu/190

fronte mystica. Inda sentião-se as pegadas de sangue da Revolução Franceza e as mãis embalavão seus filhos com os cantos de Rouget de l’Isle e com as historias sanguentas que virão...

Então, na velha Lisboa — a rainha dos mares de outrora — e onde as praias immundas repereutião as gritas despeadas das marinhagens libertinas do estrangeiro, terieis visto á tarde, com os cotovelos nas mesas torpes da taverna, a eabeça desgrenhada e loura, ou, ebrio e cambaleante, no seu enthusiasmo febril agitando a fronte accessa dos vinhos, scintillar aquelles olhos azues onde o fogo dalma lhe passava eomo ao través de uma alampada de alabastro — e as palavras sonóras, os versos túmidos, e as idéas fervorosas a transbordarem-se-lhe dos labios eloquentes — e a improvisação eada vez mais viva, a brotar como dos beiços do volcão... E depois a eabeça tornava-se mais vacillante, o olhar mais esgazeado do allucinar, e o rei da plebe, aos applausos das turbas, rodava dali, immovel, turvo, eomo um corpo bruto. — Era a embriaguez dacrapula mais immunda... Á noite... não... não vos direi a noite desse homem de vida errante, a quem por ventura ardêra no sangue de moço amor de glorias como a Luiz de Camões, amor de mulheres-anjos eomo a Petrarea; que o mundo fizera misanthropo como Rousseau, gelado no seu sensualismo enthusiasta, e a eorrupção desesperançara como Byron, que uma educação falha, um sonhar delirante civára daquella nativa ebriedade phantastiea do espirito de Chatterton e Shel-