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SONETOS


I

Para cantar de Amor tenros cuidados,
Tomo entre vos, ó montes, o instrumento,
Ouvi pois o meu funebre lamento;
Se é, que de compaixão sois animados:

Já vós vistes, que aos eccos magoados
Do Thracio Orfèo parava o mesmo vento;
Da lira de Anfião ao doce accento
Se viram os rochedos abalados.

Bem sei, que de outros Genios o destino.
Para cingir de Apollo a verde rama,
Lhes influio na lira estro divino;

O canto, pois, que a minha voz derrama,
Porque ao menos o entôa um Peregrino,
Se faz digno entre vós tambem de fama.


II


Leia a posteridade, ó patrio Rio,
Em meus versos teu nome celebrado,
Porque vejas uma hora despertado
O somno vil do esquecimento frio:

Não vês nas tuas margens o sombrio,
Fresco assento de um álamo copado;
Não vês Ninfa cantar, pastar o gado
Na tarde clara do calmoso estio.

Turvo banhando as pallidas arêas
Nas porções do riquissimo thezouro
O vasto campo da ambição recrêas.