Página:Obras poeticas de Claudio Manoel da Costa (Glauceste Saturnio) - Tomo II.djvu/191

Do murmúrio das águas e do vento,
Dando aos membros suave acolhimento,
O leve sono lhe deitava as asas.
Tecia débil cana as moles casas,
Em que apenas descansa algum rendido
Da fatigada marcha; ali ferido
De uma estranha paixão, que n'alma alenta,
Ao lado está do General; sustenta
O brioso Garcia o oficio inteiro
De súdito, de amigo e companheiro.

Rende-se ao sono o Herói, e ao anelante
Pulsar do peito, observa o vigilante
Mancebo que o combate aflita luta
No horror da fantesia; um ai lhe escuta,
Que ansioso respira; outro mais vivo
Lhe percebe no assalto sucessivo;
E ao ver que estende duramente os braços,
Já teme, e grita, e já lhe rompe os laços
Do funesto letargo: Ai! caro amigo
(Lhe diz o Herói), não temas, eu prossigo,
Se é que o espanto e o terror, que n'alma provo,
Me dão para falar-te alento novo.
Neste instante (ai de mim!), ou fosse imagem
Que há muito me oprimia, ou que a passagem
Deste Rio me ofereça agouro triste,
Eu vi (eu inda o vejo, inda me assiste
Presente aos olhos o medonho objeto!),
Eu vi que me apartava do projeto
De penetrar estes Sertões escuros
O grande Dom Rodrigo; dos seguros
Ombros, de que pendera agrave espada,
Rasga o vestido, e mostra inda manchada