Página:Obras poeticas de Claudio Manoel da Costa (Glauceste Saturnio) - Tomo II.djvu/192

A carne das feridas, de que o sangue
Correr se via; eu tremo, e quase exangue
Desmaio a tanta vista. Ele se avança,
Da mão me prende, e diz: Em vão se cansa,
Em vão o vosso Rei, se ver pertende
Subjugado este povo, que defende
Com o bárbaro zelo as pátrias Minas;
Debalde tu também hoje imaginas
Chegar ao centro delas; eu contemplo
Mil perigos na empresa; fresco exemplo
Te dá a minha morte; só te espera
De gênios brutos pertinácia fera;
Falta de fé, traições, crimes atrozes
Só terás de encontrar; se as minhas vozes
Teu crédito merecem, deixa, evita
A infame estrada... ; nisto ao ver que grita
Mais forte e mais medonha a sombra, tremo,
Pasmo, e me assusto, me horrorizo, e gemo.

Sem trabalhos (Garcia então lhe torna)
A glória não se alcança, não se adorna
Do louro da virtude o que se nega
Às árduas diligências; sei que chega
Vosso zelo e valor ao termo, aonde
Tudo o que é grande apenas corresponde
Ao meditado arrojo; mas passado
É talvez o pior, e já lembrado
Posso esperar que o mal encha algum dia
Os corações e as almas de alegria.
Temos dobrado a grande Serra;
temos Rompido os matos, onde ver podemos
As feras e o Gentio que a brenha oculta
Girar por entre nós: a alma insepulta
Do morto General a nós nos deva
Vencer do esquecimento a escura treva;