Página:Obras poeticas de Claudio Manoel da Costa (Glauceste Saturnio) - Tomo II.djvu/229

Que se ignora da música o concerto
Entre os crus Monaxós); já vinha perto
O dia ao caro laço destinado;
O Cacique, do amor estimulado
Que tem pelos seus hóspedes, destina
Que divididos vão pela colina,
E que desçam ao vale os que destreza
Têm no dardo e na flecha; encher a mesa
Intenta com a caça, que sepulta
Nos seus seios a gruta mais oculta;
Brindar quer os mais índios deste modo:
Convida desde já ao povo todo.
Ele próprio à fadiga não se nega;
Arremessa-se ao mato. Aurora pega
No seu arco também; todos se atiram
Ao fundo espesso, e pelas brenhas giram.
Teriféia a ocasião julga oportuna,
Põe os olhos no Céu, alta coluna
Levanta e firma em terra; já sobre ela
Se ergue e murmura, e nota cada estrela
Com o dedo; depois desce, e riscando
Muitas vezes em roda, vai tocando
A coluna, que treme e que se move:
Tolda-se em sombra o ar, troveja e chove;
E o tronco, dentre a nuvem que o cobrira,
Sai figurando um tigre, que respira
Fogo e veneno pelos olhos; passa
Com ele ao monte, e o guia aonde a caça
Se tenta e busca: aqui dormia Aurora;
Dormia; e junto aos pés branda e sonora
Fontezinha o repouso convidava;
O peito em grande parte debruçava
Sobre uma penha, e ao gesto brando e lindo