Página:Obras poeticas de Claudio Manoel da Costa (Glauceste Saturnio) - Tomo II.djvu/257

Que vira o vale e a aprazível fonte,
Onde de Eulina inda a memória vive.
Presente, diz o Herói, também eu tive
Toda esta noite quanto viu Garcia.
O Gênio celestial, que pôde um dia
Descobrir-me o segredo deste empório,
Tudo aos meus olhos, tudo pôs notório;
Vi este sítio, o Vale, o Rio, a Serra,
E os tesouros, que o monte ao longe encerra;
Aqui entre estes povos se levante
A Vila, e já passando mais avante
Se erija a Capital: isto dizendo,
Reparte as ordens; todos concorrendo
A um tempo vão na fábrica luzida
De um e outro edifício! Da ferida
Que abria o ferro em um robusto lenho,
Cômodo à obra, por notícia tenho
Que um cheiroso licor se derramava
Da cor do sangue; absorto o Herói estava,
E vendo a maravilha, diz a Bueno:

Acaso crera que o país ameno
Lembra o sucesso das irmãs piedosas,
Que inda choram no Erídano as saudosas
Memórias do abrasado irmão; coalhadas
Assim se vêem as lágrimas brotadas
Dos moles choupos. Bueno, que não perde
A oportuna ocasião, do tronco verde
Toma argumento e diz: A antiga história
Desta árvore, eu a guardo de memória,
Desde a primeira vez que um índio velho
Encontrei nos Sertões, e de conselho
Saudável quis que eu fosse socorrido.
Nestes montes me conta que nascido
Fora um mancebo: Blázimo era o nome,