Odes Modernas | 13 |
Ó areias da praia, ó rochas duras,
Que tambem prisioneiras aqui estaes!
Entendeis vós acaso estas ecuras
Razões da sorte, surda a nossos ais?
Sabel-as tu, ó mar, que te torturas
No teu carcere immenso? e, aguas, que andaes
Em volta aos sorvedouros que vos somem,
Sabeis vós o que faz aqui o Homem?
Fronte que banha luz - e olhar que fita
Quanta belleza a immensidão rodeia!
Da geração dos seres infinita
Mais pura forma e mais perfeita idéa!
No vasto seio um mundo se lhe agita...
E um sol, um firmamento se incendeia
Quando, ao clarão da alma, em movimento
Volve os astros de céo do pensamento!
E, no entanto, ó largo mundo, que domina
Seu espírito immentso! elle é mesquinho
Mais que a ave desvalida e pequenina
A que o vento desfez o estreito ninho!
Quanto mais vê da esphera crystallina
Mais deseja, mais sente o agudo espinho...
E o circulo de luz da alma pura
É um carcere, apenas, da tortura!