20 | Odes Modernas |
Porque o mundo, tão grande, é um infante
Que adormece entre cantos noite e dia,
Embalado no ether radiante,
Todo em sonnhos de luz e de harmonia!
O forte Mar (e mais é um gigante)
Tambem tern paz e coros de alegria...
E céo, com ser immenso, é serenado
Como um seio de heroe, vasto e pausado.
Quanto de grande ha ahi dorme e socega:
Tudo tem sua lei onde adormece:
Tudo, que pode olhar, os olhos prega
N'algum Iris d'amor que lhe alvorece...
Só nós, só nós, a raça triste e cega,
Que a tres palmos do chão nem apparece,
Só nós somos delirio e confusão,
Só nós temos per nome turbilhão!
Turbilhão — de Desejos insoffridos,
Que sopro do Impossivel precipita!
Turbilhão — de Ideaes, lumes erguidos
Em fragil lenho, que onda eterna agita!
Turbilhão — de Nações, heroes feridos
Em tragedia enredada e infinita!
Tropel de Reis sem fé, que se espedaça!
Tropel de deuses vãos, que o nada abraça!