22 | Odes Modernas |
E persistes na vida... e a vida ingrata
Foge a teus braços tremulos do amante!
E abençôas a Deus... Deus que te mata
Tua esperança e luz, a cada instante!
Que thesouro de fé (que ouro nem prata
Não podem igualar, nem diamante)
É teu peito, que doura as negras lousas...
E crês no céo... e amal-o ainda ousas?
Passam ás vezes umas luzes vagas
No meio d'esta noite tenebrosa...
Na longa praia, entre o rugir das vagas,
Transparece uma forma luminosa...
A alma inclina-se, então, por sobre as fragas,
A espreitar essa aurora duvidosa...
Se é d'um mundo melhor a prophecia,
Ou apenas das ondas a ardentia.
Sahe do cadinho horrivel das torturas,
Onde se estorce e lucta a alma humana,
Uma voz que atravessa essas alturas
Com vôo d'aguia e força soberana!
O que ha-de ser? que verbo d'amarguras?
Que blasphemia a essa sorte deshumana?
Que grito d'odio e sede de vinganga?...
Uma benção a Deus ! uma esperança !